segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Favela Vive (Cypher) - ADL, Sant, Raillow & Froid




Após uma pausa de 15 dias.
- Desculpe o transtorno, preciso falar de "Favela Vive". Conheci eles no Rap...

O primeiro trabalho lançado pelo novo selo do Ber, líder do Cartel Mc's,
é um cypher daqueles!
No momento em que os selos independentes estão em alta, "Esfinge" chegou com um chute na porta, prometendo também ser uma boa produtora.
Só pelo time que foi escalado eu já sabia que o som seria pesado.
Duas figuras já são repetidas aqui, o Froid e o Raillow.
Mas o som começa e termina com duas figuras não tão conhecidas, a dupla além da loucura "ADL".
DK e Lord são de Teresópolis, região serrana do Rio e chamam a atenção pelo estilo mais criminal.
O trampo deles eu conheci dia 1º de abril, através de um som que leva esse nome e só contém papo reto. Com um clipe muito original por sinal
( https://www.youtube.com/watch?v=VpXqsrfMajw ) lembro que no dia eles conseguiram prender mais a minha atenção que o tão comentado lançamento do "Primeiro de Abril" do Marechal ( https://www.youtube.com/watch?v=jynQH2uXm_o ) .

Falando em Marechal, quem chega depois do DK quebrando tudo é o seu pupilo Sant.
Para ser apadrinhado pelo mestre não pode ser pouca coisa, e não é mesmo, apesar da pouca idade o Sant é excelente no que faz. O cd dele "O que separa os homens dos meninos" ele fez questão de me dar na maior humildade, na roda cultural da KGL e eu guardo na estante junto com o porradão de 2 "É O Rap / Entre Nós" que comprei há alguns anos em alguma outra roda.

"Então vamo lá, se politizar muito mais que só xingar o governo".
Visão periférica é o tema dessa track, que o Raillow do grupo PrimeiraMente também domina muito bem. Sim, ele é sinistro nas ideias!
Já o Froid conseguiu me surpreender mais uma vez, e dessa vez foi pelo flow totalmente inusitado.
Com uma levada de ragga meio funk, ele vem mostrando mais uma vez que é uma das maiores promessas do Rap.
O beat assinado pelo Índio, que é o DJ do ADL, tem um sample clássico que faz lembrar "Brinquedo Assassino" do grupo A Família.

Desculpa aí, tentei achar algum defeito nesse chyper, mas não encontrei nenhum.
Ouçam e prestem atenção na lírica, pois a favela ainda vive no Rap BR e está muito bem representada nesse vídeo gravado na maior delas, a Rocinha!










domingo, 11 de setembro de 2016

Sessão de Pixação

Meu primeiro contato com o mundo do Rap foi através da arte proibida, 
essa que também faz parte da vida de muitos mc's. 
A marca "Xarpi", que é como a pixação é chamada no Rio de Janeiro por causa da língua do ttk (em que as palavras têm suas sílabas invertidas), surgiu da minha relação com esse movimento.
Com a festa Xarpi eu pude unir duas paixões, que até então eram meio distantes, apesar de possuírem a mesma origem, o underground. 
No início dos anos 2000 o movimento do Rap era bem fraco comparado ao Funk. 
No Rio principalmente, o Funk era uma febre e a grande maioria dos pixadores só conheciam Racionais, Mv Bill, D2 e Gabriel O Pensador. 
Em 2005 um amigo que curtia xarpi, me convidou para uma festa de Rap. 
Era a Batalha do Real, que acontecia aos sábados em uma pequena casa dentro dos arcos da Lapa, aliás no último arco.
Como no filme 8Mile do Eminem (um clássico daquela época), as batalhas eram fodas e me fizeram rapidamente substituir os bailes de favela pela Lapa. 
Em 2006 o meu primeiro namorado, o "Caixa", tinha sido assassinado com a tinta na mão e aquele amigo que apresentou o Rap pra gente, o MC Leonel, me mandou uma base. Ele me falou um programa pra baixar e me ensinou como gravava em cima daquele beat gringo. Sem microfone e totalmente fora do ritmo, gravei um feat com uma letra boba que escrevi na hora, pelo fone do meu computador. Rap do Xarpi parte 4, mais conhecido como "Vício Rebelde", que era a minha sigla na pixação e uma das mais conhecidas na época, teve uma grande repercussão.  
A galera do rabisco do Brasil todo curtia esse som, virou um verdadeiro hino da pixação. Lembro que o número de views no youtube aquela época era muito pequeno e o nosso era assustadoramente grande. Depois de um tempo o som foi banido do youtube e eu só gravei mais um, pois eu tinha uma autocrítica forte e sabia que aquele não era o meu talento. O Leonel gravou mais de 10 rap's do xarpi e tá na pista até hoje como um dos pioneiros, se consagrando mestre nesse tema. Nunca existiu um mc que rimasse mais sobre o xarpi como ele e através de uma pesquisa fui descobrindo vários que nem fazia idéia... 
Nomes conhecidos como Funkero, Shaw, Ogi e Nocivo estão nessa lista aleatória que selecionei, que inclui também clipes e vários rap's amadores, de várias cidades, do norte ao sul do país.
Assim como o Grafite, acredito que o Rap não seria o mesmo sem o Xarpi.
2010 foi um marco pro Rap Nacional, em que a festa Xarpi movimentou a cena nacionalmente, fazendo a conexão e trazendo vários mc's para o território carioca. 



Nocivo Shomon - Pixadores



Nocivo Shomon - Pixadores 2 



Mobb e Rafael - Pinturas Rupestres



Leonel - Rap do Xarpi 



Leonel - Aqui no Rio




Shaw part. Zé Bolinho e Funkero - Ruas Vazias




Ogi - Noite Fria


Ogi - Premonição



FBC - Meu Amigo Pixador




DV - Hino



18K - Foska



Eliefe Decreto - É o Pixo


Samantha Zen part. Reynier Rato - Xarpi




Subliminares - Os Muros Falam Por Mim



Dilema part.  Dentão - Hoje Eu Vou Sair Pra Decorar Minha City



Parábola - Muros da Cidade



Alcalde - Arte Proibida




Grilo 13 - Arte Como Crime



Artigo XVI - Pixo                                       



Bosco - Eu Pixo



Apologia do Gueto part. Livia - Xarpi no Extremo




Jamés Ventura - Irmãos de Tinta




Cabes - Hora do Rolê



Cabes - Hora do Rolê 2



Papo - Eu Pixava Sim



Santa Cruz part. Melk e Thales - Bonde da Pixação



Santa Cruz part. Melk - Bonde da Pixação 2




Grilo 13 - Pixar é Humano



Grilo 13 - Pixo Memo




Leonel - 5* É a Minha Gang




Alta Consequência - 16 22



2.2 part. Leonel - Só Entende Quem Pratica




Funkero - Máfia do Spray



ADL - Ataque Noturno



Leonel - Eterno Vuca




Leonel - Profissão de Risco



Leonel - Tarbo Meno Jeho





Nuno DV - Minha Vida Rabiscada




Leonel - Five Star



Nuno DV - Quando Eu Partir


Nuno DV - João Marcello (Isak) 



Leonel e Runk - Rato de Pista



Binho 288 - Bonde do Xarpi


terça-feira, 6 de setembro de 2016

Eu tava lá - Lívia Cruz



É disso que eu tô falando! Poder feminino carai.
Ontem meu dia tava nada bom, até ouvir esse som.
A linda da Lívia Cruz veio pesadíssima em resposta a "Quem tava lá"
do Costa Gold com Marechal e Luccas Carlos.

"Isso não é uma diss, é meu direito de resposta".
Exatamente, quem fala o que quer, escuta o que não quer, correto?
Em meio à tantas letras machistas por aí, a Lívia soube responder melhor do que ninguém.
Na Era da Diss, essa tem uma importância que vai além, pois mais do que uma provocação aos meninos do Costa, esse som é um desabafo feminino, um grito de liberdade de todas as minas que se calaram no meio machista do Rap até hoje. Seu discurso é de uma verdadeira feminista, que com consciência não está atrás de disputa e sim de igualdade.

Na mesma pegada que o Marecha, ela veio contando basicamente tudo o que trilhou no Rap, de ano em ano.
Enquanto de um lado ele lembra de uma época em que não tinha microfone, a Lívia conta que em 98 já fazia som sem beat lá em Recife.
A influência do tio foi tão grande, que na parte "sem essa de cap, de jaco, eu to no kit..." ela arriscou até um flow no estilo Quinto Andar como o dele na parte "virava os under mais sujo, até acender a luz e mandar eu parar..." .
https://www.youtube.com/watch?v=hx1833xDJrQ Vale a pena ouvir de novo.

Citando outras mulheres como Lady Rap, Kalyne Lima e Nega Gizza, que fazem parte da história, ela fala da grande luta que é para entrar e acima de tudo permanecer num movimento que sempre foi bem masculino. E mostra que as minas podem fazer mais que refrões, muito mais.
Nomes importantes da Brutal Crew como DJ Babão, Iky Castilho e Aori, também aparecem nesse som, exaltando o fortalecimento dos amigos cariocas em sua caminhada, um ano após ela ter se mudado para São Paulo.

Em quase 5 minutos, a Lívia teve muita coisa pra falar e assim não desperdiçou nenhum verso, soltando várias punch lines. A persistência para continuar no Rap, é um fato marcante de quem sofreu pela falta de apoio, principalmente quando engravidou.
Ela cita também a mix "Rotação 33" do mestre Kl Jay que é uma raridade: https://www.youtube.com/watch?v=3S96ZaxAYuQ

"O Rap tá virando piquenique de filha da puta, buceta e de brinde sífilis."
Depois desse verso tão criticado que o Nog lançou,
"Eu vim pra invadir o seu piquenique, botar no espetinho essas suas little dick" é uma zoeira necessária, em resposta a ele e a todos que chamam as minas de vadias o tempo todo.
Tá mais que na hora de respeitar as tias, viu? Pois "noiz tava lá" bem antes de vocês e mais do que carne, as minas tem conteúdo!

O refrão no final é uma versão do clássico "Oh La la la" do The Fugges e ficou bom a vera. Lembrei da época underground de "Hip Hop Sanduba" na favela do Arará, em que os amigos relíquias também fizeram uma versão dessa música.
Ê nostalgia! Pode perguntar pra Negra Rê, eu tava lá.

Obrigada Lívia, você é xota!
Esqueci de citar que você e a Sweet me inspiraram no texto que fiz sobre "Quem tava lá".
Bom ver que a revolta veio em forma de música também.
"Tamo juntas" !
Espero por mais sons assim.



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Sessão Clássicos


Para começar bem a semana, irei postar toda segunda-feira uma lista com 5 clássicos do Rap Nacional. Não importa o tempo que passa, serão sempre lembrados.
Clássico é clássico!



SNJ - Pensamentos

"Parei para refletir e viajei..." esse som é foda!



Racionais Mc's - Fórmula Mágica da Paz

Esse clássico é daqueles que tocam na alma... Racionais = Deus



RZO - O Trem

O hino dos surfistas de trem. Um som que marcou uma época.



Rappin Hood & Caetano Veloso - Rap Du Bom

Junção mais que perfeita. Amo demais essa música.



MV BILL - Só Deus Pode Me Julgar

Primeiro rap que eu fiquei vidrada na letra. Esse é um tiro no peito do Brasil.

sábado, 3 de setembro de 2016

Raillow, Ogi, Qualy & Síntese - "Odisséia"



Só possuído, deveria ser o nome dessa faixa.
Venho acompanhando todos os lançamentos do Rap Box e já posso dizer que tenho 2 cyphers favoritos. O outro já postei aqui.

"Esquece tudo que cê aprendeu na escola."
A voz rasgada de quem inicia o som é do Raillow, integrante de um grupo paulista que a cada dia que passa vem ganhando mais reconhecimento. Faz pouquíssimo tempo que eu fui iniciada ao PrimeiraMente, por indicação do Haikaiss. Nas primeiras vezes que ouvi não gostei muito, por ter um estilo mais sujo e total masculino, mas logo depois cheguei a conclusão de que os garotos são bons mesmo. Merece um outro post só deles.
Num estilo agressivão, o Raillow aborda temas como as drogas de um jeito original e maduro, caindo mais pro lado político da questão.

Na sequência chega o Ogi com seu flow inconfundível "que vicia". Aliás, nessa sessão todos são fodas no quesito flow.
Ele que é mestre em criar personagens, já que é o melhor contador de histórias que o Rap tem, nesse som veio pagar de chefe do crime. Conheci o trabalho dele por afinidade com a pixação.  Ex pixador também, o "titio, vovô, ancião" Ogi sabe bem como descrever as ruas. Sendo pixo ou xarpi, vários mc's já tiveram envolvimento com a arte proibida e ele é um dos que mais exalta isso.
Não foi a toa que em 2011 ele cantou em uma das melhores edições da festa Xarpi.
O Ogi abriu o Circo Voador naquela noite histórica de 2011, em que dividiu palco com Black Alien, Marechal, Projota, Karol Conká, Negra Li, Xará, Juju Gomes, Gutierrez e André Ramiro. A galera da tinta estava ali em peso na Lapa para ouvir as crônicas da cidade cinza.

"Primeiramente vivi o Contrafluxo, Síntese do impulso, Poesia pragmática, Haikaiss, meu ser absoluto".
Dessa vez vou pular a parte de elogiar a voz dele, porque nem precisa. Qualy começou muito bem fazendo esse jogo de palavras com os nomes dos grupos, dos respectivos mc's ali presentes.
Relatando uma vida de lutas e conquistas no Rap, ele fala do seu amor por viver disso e a importante missão de estar sempre renovando.
"Expandir é um tiro no pé, limitar é um tiro no peito.
Renovação faz parte, quem quer ser obsoleto?
Então antes de opinar amigo, pague o boleto."
Sem necessidade de explicar seus versos, só sei que esse projeto que o Rap Box vem fazendo é um exemplo lindo de renovação e união na cena. É o que há de melhor no momento!

"O verso é novo, a vida é velha".
"Ousado zen, quem?" Neto, que ainda se auto nomeia Síntese (mesmo sem o Leo), com uns 12 anos de idade já fazia beatbox pros mais velhos rimarem nas reuniões de pixadores por volta de 2006, lá em São José dos Campos.
O famoso Vale, que fica no interior de SP, já revelou excelentes artistas e o Síntese é um deles.
Mesmo tendo surgido na pista há uns 6 anos, também foi só este ano que eu conheci e tive a oportunidade de convidar para cantar em uma edição especial da Xarpi em Niterói.
Nesse chyper o Neto está impossível, no bom sentido. Dando até uma arranhada no inglês, parece que baixou uma entidade ali. Com um intelecto avançado, ele fez "frígido sentir" finalizando esse som, que prova mais uma vez que o rap inteligente existe. Sem economizar palavras, ele disparou várias ideias que questionam a sociedade e incluem até religião.