domingo, 27 de novembro de 2016

Rashid - Primeira Diss




Já disse que tá rolando a Era da Diss? 
Pois bem, pode ser o encerramento dela. 
No meio dessa terra de ego (o famoso mundinho Rap), 
o Rashid lançou essa inusitada: Diss pra ele mesmo.
De início pode parecer estranho e perturbador, mas acima de tudo é genial.
Uma aula de autoconfiança e humildade no maior talento.
Assim ele conseguiu aniquilar todos os mc's e deixou os haters mordidos.
Bobo ele nunca foi, com essa ele reviveu a veia que tinha lá nos duelos de mc's, antes mesmo de entrar para o Rap Game.
É claro que a primeira coisa que me veio na cabeça quando escutei o som, foi o Eminem no 8 Mile.
O clássico filme da Rua das Iusões já foi e continua sendo uma referência e tanto pro Rap BR.

Mas foi outro filme que se passou na minha cabeça... era início de 2011 quando convidei o Rashid juntamente com o Projota para cantar na oitava edição da Xarpi. E no mesmo ano, já em formato de festival, eles voltaram na comemoração de 1 ano da festa. 
De lá pra cá, muitas coisas mudaram, mas eu não me esqueço do primeiro som que ouvi dos dois quando fui dar um rolé jovem em São Paulo. "Lauzane" era a trilha sonora, aquela que a gente põe no repeat 800 vezes. E depois vieram os love songs que marcaram demais, assim como os 3 Temores. Do trio, sabemos que o Rashid é o que menos se popularizou, mas sempre se manteve forte na cena. 

Andam dizendo por aí que o Nocivo vai responder essa diss...
Zoeiras à parte, por mais que as disses sejam degradantes, tenho visto grande importância em cada uma delas. 
Por trás de todas há uma boa causa. 
E lembrem- se que a moeda sempre terá dois lados. 

Cypher "Machocídio" - Sara Donato, Luana Hansen, Souto MC, Issa Paz




Na era do chyper e da diss, essa veio como uma rajada de resPeito.
Sara Donato, Luana Hansen, Souto MC e Issa Paz conseguiram falar tudo e mais um pouco do que há bastante tempo estava entalado na garganta de qualquer mina do Rap, ou deveria estar.
Nesse som elas ultrapassaram qualquer expectativa. Todas quebraram na ideia e não economizaram frases de efeito. O nível é alto tanto na letra quanto no flow. E tenho que dizer que isso me encheu de orgulho, pois eu canso de ouvir som fraco e nunca me atrevo em dizer que é bom, só porque foi feito por outra mulher.
Aliás, preciso deixar bem claro aqui também, que só posto o que eu acho bom ou relevante na cena, sem essa de pelar saco de conhecido, por tanto que desse chyper eu só estava ligada na Issa até então.
Sempre quis ver isso, as minas chegando no mesmo nível que os caras, ou até melhores.

Poderia listar aqui uma pá de indiretas que percebi nesse som, mas a lista seria grande viu?
Então aconselho a ler a letra inteira na descrição do vídeo no youtube.
Alvos como Costa Gold e Mv Bill (traficando informação) ficaram nítidos.
Cachorro magro então, ficou com a moral em baixa nessa.
Sobrou até pro Emicida, pois quem não lembra do episódio da trepadeira?
Não podia esquecer de outro episódio que também deu o que falar, o do Filipe Ret falando de um tal de estrupo "não concedido".

Não é novidade pra ninguém o quanto o Rap é de fato machista, assim como o mundo. E esse é o melhor momento pra por tudo isso em questão e não deixar mais passar batido nenhum absurdo cuspido pelos mc's.
Um tapa na cara dos machos que acham que as minas só curtem love song ou que a participação das mc's no rap só cabem em refrão, foi lançado nesse som.
Que empoderamento feminino não é escolha deles também foi um aviso de respeito.
Elas definiram bem a cena, composta por "2 tipos de mc's, os misóginos e os machistas".

Podem avisar que a luta pela desconstrução do machismo enraizado no hip hop pode demorar, mas está acontecendo!



segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Favela Vive (Cypher) - ADL, Sant, Raillow & Froid




Após uma pausa de 15 dias.
- Desculpe o transtorno, preciso falar de "Favela Vive". Conheci eles no Rap...

O primeiro trabalho lançado pelo novo selo do Ber, líder do Cartel Mc's,
é um cypher daqueles!
No momento em que os selos independentes estão em alta, "Esfinge" chegou com um chute na porta, prometendo também ser uma boa produtora.
Só pelo time que foi escalado eu já sabia que o som seria pesado.
Duas figuras já são repetidas aqui, o Froid e o Raillow.
Mas o som começa e termina com duas figuras não tão conhecidas, a dupla além da loucura "ADL".
DK e Lord são de Teresópolis, região serrana do Rio e chamam a atenção pelo estilo mais criminal.
O trampo deles eu conheci dia 1º de abril, através de um som que leva esse nome e só contém papo reto. Com um clipe muito original por sinal
( https://www.youtube.com/watch?v=VpXqsrfMajw ) lembro que no dia eles conseguiram prender mais a minha atenção que o tão comentado lançamento do "Primeiro de Abril" do Marechal ( https://www.youtube.com/watch?v=jynQH2uXm_o ) .

Falando em Marechal, quem chega depois do DK quebrando tudo é o seu pupilo Sant.
Para ser apadrinhado pelo mestre não pode ser pouca coisa, e não é mesmo, apesar da pouca idade o Sant é excelente no que faz. O cd dele "O que separa os homens dos meninos" ele fez questão de me dar na maior humildade, na roda cultural da KGL e eu guardo na estante junto com o porradão de 2 "É O Rap / Entre Nós" que comprei há alguns anos em alguma outra roda.

"Então vamo lá, se politizar muito mais que só xingar o governo".
Visão periférica é o tema dessa track, que o Raillow do grupo PrimeiraMente também domina muito bem. Sim, ele é sinistro nas ideias!
Já o Froid conseguiu me surpreender mais uma vez, e dessa vez foi pelo flow totalmente inusitado.
Com uma levada de ragga meio funk, ele vem mostrando mais uma vez que é uma das maiores promessas do Rap.
O beat assinado pelo Índio, que é o DJ do ADL, tem um sample clássico que faz lembrar "Brinquedo Assassino" do grupo A Família.

Desculpa aí, tentei achar algum defeito nesse chyper, mas não encontrei nenhum.
Ouçam e prestem atenção na lírica, pois a favela ainda vive no Rap BR e está muito bem representada nesse vídeo gravado na maior delas, a Rocinha!










domingo, 11 de setembro de 2016

Sessão de Pixação

Meu primeiro contato com o mundo do Rap foi através da arte proibida, 
essa que também faz parte da vida de muitos mc's. 
A marca "Xarpi", que é como a pixação é chamada no Rio de Janeiro por causa da língua do ttk (em que as palavras têm suas sílabas invertidas), surgiu da minha relação com esse movimento.
Com a festa Xarpi eu pude unir duas paixões, que até então eram meio distantes, apesar de possuírem a mesma origem, o underground. 
No início dos anos 2000 o movimento do Rap era bem fraco comparado ao Funk. 
No Rio principalmente, o Funk era uma febre e a grande maioria dos pixadores só conheciam Racionais, Mv Bill, D2 e Gabriel O Pensador. 
Em 2005 um amigo que curtia xarpi, me convidou para uma festa de Rap. 
Era a Batalha do Real, que acontecia aos sábados em uma pequena casa dentro dos arcos da Lapa, aliás no último arco.
Como no filme 8Mile do Eminem (um clássico daquela época), as batalhas eram fodas e me fizeram rapidamente substituir os bailes de favela pela Lapa. 
Em 2006 o meu primeiro namorado, o "Caixa", tinha sido assassinado com a tinta na mão e aquele amigo que apresentou o Rap pra gente, o MC Leonel, me mandou uma base. Ele me falou um programa pra baixar e me ensinou como gravava em cima daquele beat gringo. Sem microfone e totalmente fora do ritmo, gravei um feat com uma letra boba que escrevi na hora, pelo fone do meu computador. Rap do Xarpi parte 4, mais conhecido como "Vício Rebelde", que era a minha sigla na pixação e uma das mais conhecidas na época, teve uma grande repercussão.  
A galera do rabisco do Brasil todo curtia esse som, virou um verdadeiro hino da pixação. Lembro que o número de views no youtube aquela época era muito pequeno e o nosso era assustadoramente grande. Depois de um tempo o som foi banido do youtube e eu só gravei mais um, pois eu tinha uma autocrítica forte e sabia que aquele não era o meu talento. O Leonel gravou mais de 10 rap's do xarpi e tá na pista até hoje como um dos pioneiros, se consagrando mestre nesse tema. Nunca existiu um mc que rimasse mais sobre o xarpi como ele e através de uma pesquisa fui descobrindo vários que nem fazia idéia... 
Nomes conhecidos como Funkero, Shaw, Ogi e Nocivo estão nessa lista aleatória que selecionei, que inclui também clipes e vários rap's amadores, de várias cidades, do norte ao sul do país.
Assim como o Grafite, acredito que o Rap não seria o mesmo sem o Xarpi.
2010 foi um marco pro Rap Nacional, em que a festa Xarpi movimentou a cena nacionalmente, fazendo a conexão e trazendo vários mc's para o território carioca. 



Nocivo Shomon - Pixadores



Nocivo Shomon - Pixadores 2 



Mobb e Rafael - Pinturas Rupestres



Leonel - Rap do Xarpi 



Leonel - Aqui no Rio




Shaw part. Zé Bolinho e Funkero - Ruas Vazias




Ogi - Noite Fria


Ogi - Premonição



FBC - Meu Amigo Pixador




DV - Hino



18K - Foska



Eliefe Decreto - É o Pixo


Samantha Zen part. Reynier Rato - Xarpi




Subliminares - Os Muros Falam Por Mim



Dilema part.  Dentão - Hoje Eu Vou Sair Pra Decorar Minha City



Parábola - Muros da Cidade



Alcalde - Arte Proibida




Grilo 13 - Arte Como Crime



Artigo XVI - Pixo                                       



Bosco - Eu Pixo



Apologia do Gueto part. Livia - Xarpi no Extremo




Jamés Ventura - Irmãos de Tinta




Cabes - Hora do Rolê



Cabes - Hora do Rolê 2



Papo - Eu Pixava Sim



Santa Cruz part. Melk e Thales - Bonde da Pixação



Santa Cruz part. Melk - Bonde da Pixação 2




Grilo 13 - Pixar é Humano



Grilo 13 - Pixo Memo




Leonel - 5* É a Minha Gang




Alta Consequência - 16 22



2.2 part. Leonel - Só Entende Quem Pratica




Funkero - Máfia do Spray



ADL - Ataque Noturno



Leonel - Eterno Vuca




Leonel - Profissão de Risco



Leonel - Tarbo Meno Jeho





Nuno DV - Minha Vida Rabiscada




Leonel - Five Star



Nuno DV - Quando Eu Partir


Nuno DV - João Marcello (Isak) 



Leonel e Runk - Rato de Pista



Binho 288 - Bonde do Xarpi


terça-feira, 6 de setembro de 2016

Eu tava lá - Lívia Cruz



É disso que eu tô falando! Poder feminino carai.
Ontem meu dia tava nada bom, até ouvir esse som.
A linda da Lívia Cruz veio pesadíssima em resposta a "Quem tava lá"
do Costa Gold com Marechal e Luccas Carlos.

"Isso não é uma diss, é meu direito de resposta".
Exatamente, quem fala o que quer, escuta o que não quer, correto?
Em meio à tantas letras machistas por aí, a Lívia soube responder melhor do que ninguém.
Na Era da Diss, essa tem uma importância que vai além, pois mais do que uma provocação aos meninos do Costa, esse som é um desabafo feminino, um grito de liberdade de todas as minas que se calaram no meio machista do Rap até hoje. Seu discurso é de uma verdadeira feminista, que com consciência não está atrás de disputa e sim de igualdade.

Na mesma pegada que o Marecha, ela veio contando basicamente tudo o que trilhou no Rap, de ano em ano.
Enquanto de um lado ele lembra de uma época em que não tinha microfone, a Lívia conta que em 98 já fazia som sem beat lá em Recife.
A influência do tio foi tão grande, que na parte "sem essa de cap, de jaco, eu to no kit..." ela arriscou até um flow no estilo Quinto Andar como o dele na parte "virava os under mais sujo, até acender a luz e mandar eu parar..." .
https://www.youtube.com/watch?v=hx1833xDJrQ Vale a pena ouvir de novo.

Citando outras mulheres como Lady Rap, Kalyne Lima e Nega Gizza, que fazem parte da história, ela fala da grande luta que é para entrar e acima de tudo permanecer num movimento que sempre foi bem masculino. E mostra que as minas podem fazer mais que refrões, muito mais.
Nomes importantes da Brutal Crew como DJ Babão, Iky Castilho e Aori, também aparecem nesse som, exaltando o fortalecimento dos amigos cariocas em sua caminhada, um ano após ela ter se mudado para São Paulo.

Em quase 5 minutos, a Lívia teve muita coisa pra falar e assim não desperdiçou nenhum verso, soltando várias punch lines. A persistência para continuar no Rap, é um fato marcante de quem sofreu pela falta de apoio, principalmente quando engravidou.
Ela cita também a mix "Rotação 33" do mestre Kl Jay que é uma raridade: https://www.youtube.com/watch?v=3S96ZaxAYuQ

"O Rap tá virando piquenique de filha da puta, buceta e de brinde sífilis."
Depois desse verso tão criticado que o Nog lançou,
"Eu vim pra invadir o seu piquenique, botar no espetinho essas suas little dick" é uma zoeira necessária, em resposta a ele e a todos que chamam as minas de vadias o tempo todo.
Tá mais que na hora de respeitar as tias, viu? Pois "noiz tava lá" bem antes de vocês e mais do que carne, as minas tem conteúdo!

O refrão no final é uma versão do clássico "Oh La la la" do The Fugges e ficou bom a vera. Lembrei da época underground de "Hip Hop Sanduba" na favela do Arará, em que os amigos relíquias também fizeram uma versão dessa música.
Ê nostalgia! Pode perguntar pra Negra Rê, eu tava lá.

Obrigada Lívia, você é xota!
Esqueci de citar que você e a Sweet me inspiraram no texto que fiz sobre "Quem tava lá".
Bom ver que a revolta veio em forma de música também.
"Tamo juntas" !
Espero por mais sons assim.



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Sessão Clássicos


Para começar bem a semana, irei postar toda segunda-feira uma lista com 5 clássicos do Rap Nacional. Não importa o tempo que passa, serão sempre lembrados.
Clássico é clássico!



SNJ - Pensamentos

"Parei para refletir e viajei..." esse som é foda!



Racionais Mc's - Fórmula Mágica da Paz

Esse clássico é daqueles que tocam na alma... Racionais = Deus



RZO - O Trem

O hino dos surfistas de trem. Um som que marcou uma época.



Rappin Hood & Caetano Veloso - Rap Du Bom

Junção mais que perfeita. Amo demais essa música.



MV BILL - Só Deus Pode Me Julgar

Primeiro rap que eu fiquei vidrada na letra. Esse é um tiro no peito do Brasil.

sábado, 3 de setembro de 2016

Raillow, Ogi, Qualy & Síntese - "Odisséia"



Só possuído, deveria ser o nome dessa faixa.
Venho acompanhando todos os lançamentos do Rap Box e já posso dizer que tenho 2 cyphers favoritos. O outro já postei aqui.

"Esquece tudo que cê aprendeu na escola."
A voz rasgada de quem inicia o som é do Raillow, integrante de um grupo paulista que a cada dia que passa vem ganhando mais reconhecimento. Faz pouquíssimo tempo que eu fui iniciada ao PrimeiraMente, por indicação do Haikaiss. Nas primeiras vezes que ouvi não gostei muito, por ter um estilo mais sujo e total masculino, mas logo depois cheguei a conclusão de que os garotos são bons mesmo. Merece um outro post só deles.
Num estilo agressivão, o Raillow aborda temas como as drogas de um jeito original e maduro, caindo mais pro lado político da questão.

Na sequência chega o Ogi com seu flow inconfundível "que vicia". Aliás, nessa sessão todos são fodas no quesito flow.
Ele que é mestre em criar personagens, já que é o melhor contador de histórias que o Rap tem, nesse som veio pagar de chefe do crime. Conheci o trabalho dele por afinidade com a pixação.  Ex pixador também, o "titio, vovô, ancião" Ogi sabe bem como descrever as ruas. Sendo pixo ou xarpi, vários mc's já tiveram envolvimento com a arte proibida e ele é um dos que mais exalta isso.
Não foi a toa que em 2011 ele cantou em uma das melhores edições da festa Xarpi.
O Ogi abriu o Circo Voador naquela noite histórica de 2011, em que dividiu palco com Black Alien, Marechal, Projota, Karol Conká, Negra Li, Xará, Juju Gomes, Gutierrez e André Ramiro. A galera da tinta estava ali em peso na Lapa para ouvir as crônicas da cidade cinza.

"Primeiramente vivi o Contrafluxo, Síntese do impulso, Poesia pragmática, Haikaiss, meu ser absoluto".
Dessa vez vou pular a parte de elogiar a voz dele, porque nem precisa. Qualy começou muito bem fazendo esse jogo de palavras com os nomes dos grupos, dos respectivos mc's ali presentes.
Relatando uma vida de lutas e conquistas no Rap, ele fala do seu amor por viver disso e a importante missão de estar sempre renovando.
"Expandir é um tiro no pé, limitar é um tiro no peito.
Renovação faz parte, quem quer ser obsoleto?
Então antes de opinar amigo, pague o boleto."
Sem necessidade de explicar seus versos, só sei que esse projeto que o Rap Box vem fazendo é um exemplo lindo de renovação e união na cena. É o que há de melhor no momento!

"O verso é novo, a vida é velha".
"Ousado zen, quem?" Neto, que ainda se auto nomeia Síntese (mesmo sem o Leo), com uns 12 anos de idade já fazia beatbox pros mais velhos rimarem nas reuniões de pixadores por volta de 2006, lá em São José dos Campos.
O famoso Vale, que fica no interior de SP, já revelou excelentes artistas e o Síntese é um deles.
Mesmo tendo surgido na pista há uns 6 anos, também foi só este ano que eu conheci e tive a oportunidade de convidar para cantar em uma edição especial da Xarpi em Niterói.
Nesse chyper o Neto está impossível, no bom sentido. Dando até uma arranhada no inglês, parece que baixou uma entidade ali. Com um intelecto avançado, ele fez "frígido sentir" finalizando esse som, que prova mais uma vez que o rap inteligente existe. Sem economizar palavras, ele disparou várias ideias que questionam a sociedade e incluem até religião.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

ConeCrewDiretoria - All In Gang




Um fenômeno chamado Cone Crew Diretoria.
Quem viveu o boom do Rap Nacional (2010), sabe que a parada foi séria e que existe o antes da Cone e o depois da Cone. O tsunami que passou e colocou o Rap Carioca no mapa, vem há um tempo prometendo álbum novo e acaba de soltar esse som inédito junto com clipe.

Com o time desfalcado, todo mundo está querendo saber o porquê da ausência do Maomé e se essa música seria um aviso de rompimento, já que ele anda cheio de projetos paralelos.
A falta do seu ataque lírico fez uma certa falta. Maomé sempre teve um estilo mais sério e agressivo dos demais da crew. Sua fama começou nos duelos de mc's, onde eu me recordo das suas primeiras participações na Batalha do Real, no saudoso CIC (Fundição Progresso). No início ninguém botava muita fé, mas da noite pro dia ele se tornou um dos melhores na arte do improviso. Um troféu da importante Liga dos Mc's e diversos outros títulos fazem parte do seu currículo. Atualmente ele vem representando com várias iniciativas em prol do movimento, como o projeto Mic Master Brasil, que pela primeira vez na história irá premiar um MC com um carro zero. Mas mesmo assim torço para o Maomé permanecer no grupo, pois ele não é o mesmo sem a Cone e nem a Cone é a mesma sem ele.

"Eu to bebendo todo dia, fumando todo dia, fudendo umas vadias..."
Péra, aquela palavrinha mágica está por aqui novamente "vadias". (.....)
O som começa com esse verso, cantado por uma das minhas vozes preferidas do Rap.
Rany Money é o dono da primeira música que eu ouvi da Cone, "Skunk Funky", que por sinal era boa pra caralho pra época.
Quem ganha destaque pela voz também é o Ari, que é o mais versátil de todos e vem conquistando cada vez mais espaço na Cone Crew, sem falar que ele está com um trabalho solo promissor.
Com versos além de refrão, ele puxa uma dancinha com todos, dando uma graça a mais ao clipe.

Falando da Cone de antigamente, é notável a transformação que sofreu nesse não tão longo período de 10 anos. Não tão longo, pois parece que foi ontem que tudo começou. Os shows no Alto da Boa Vista e na Ilha Primeira marcaram uma época em que o Rap estava começando a ser frequentado por playboys e patys. Era emocionante e inovador ter que pegar um barco no meio da Barra da Tijuca para curtir um show em uma casa roots, com aquela velha falta de estrutura e som underground.
Tenho orgulho de ter realizado um show deles na segunda edição da Xarpi, no antigo Kalesa e em 2011 dois shows no Scala, ambos no Centro.
Quem conheceu o grupo lá atrás, sente falta das letras mais politizadas, mas a fama de grupo mais fanfarrão sempre existiu.
E "All In Gang" vem nessa pegada descontraída, reafirmando seu legado e dando continuidade à religião do foda-se.
O termo "all in" que vem dos jogos como o poker, significa investir com tudo contra seu adversário. É basicamente uma aposta de alto risco, de quem acredita que pode vencer, senão perde tudo.

A parte do Batoré tive uma certa dificuldade para entender de primeira, por causa do flow e da voz meio alterada.
As rimas são largadas daquele jeito único Batoré-de-ser e dedicados aos "recalcados". Aquele assunto principal do Rap Game, de quem tem mais nikes, likes e bitches...
"Pra você virar all in vai ter que viver 2 vezes" é um recado para os ditos "rap fakes".
E parece que o jogo inverteu, dessa vez pela primeira vez na vida eu consegui entender tudo que o Cert rimou. O mais wild style do grupo, brincou demais nesse som, não se repetindo tanto em suas métricas, mesmo utilizando de termos muitas vezes sem grandezas.

Sobre excessos e redundâncias da cena: o que fazem sempre questão de vender são "as drogas, a ostentação e as vadias". O Rap precisa pegar leve com esta misoginia irresponsável e descarada.

O clipe super classudo tem a direção assinada mais uma vez por Vandalo. Pelas ruas do centro do Rio, eles andam de traje "passeio completo" zoando tudo. Gostei, apesar de nunca entender o porquê dos rappers amarem se vestir socialmente nos clipes, diferente da vida real e eu já achar isso até clichê.
Com todos de preto e suas damas ao lado, em um cenário fino de festa de casamento, algumas partes me fizeram lembrar bastante o clipe "Invicto" do Filipe Ret.
Algumas figuras conhecidas reaparecem de outros clipes da Cone, como o Mr. Catra e o ator/cantor Negueba. O Alandim (filho do Catra) e o Mottila (grafiteiro/dono dos caps e das artes do Bonde da Madrugada) também participam.
Mas quem toma a cena de assalto mesmo são os figurantes, garçons, faxineiros e principalmente os músicos. Saxofones, guitarra e contra baixos valorizaram ainda mais o instrumental.
Aliás, beat foda já se tornou marca registrada da Cone, graças ao Papatinho.
Agora o negócio é esperar o Bonde da Madrugada II sair.
A cena final do clipe deu a esperança disso estar prestes a acontecer e se ela vai fazer jus ao "B.M. parte 1" só o tempo dirá.




domingo, 21 de agosto de 2016

Costa Gold - "Quem Tava Lá?" Com: Marechal e Luccas Carlos




"Vagabundo não esperava essa não."
E assim começa uma nova era, onde Marechal se une ao Costa Gold.
Esse som é para voltarmos à realidade de fato.
Geralmente começo pelo começo do som, mas dessa vez vou começar pelo final. Final que não deixa de ser começo, se tratando de Marechal.
O "Rap de Mensagem" finalmente se uniu ao "Rap Modinha"?
É o que muitos estão se perguntando agora.
Vamos lá! Que o Marechal influencia toda uma geração do Rap Nacional não é nenhuma novidade. Mestre é apelido, o cara sempre foi um dos mais respeitados da cena.
E assim como vários grupos novos, o Costa sempre deixou clara a sua admiração por ele. Não é a toa que o Predella tem tatuado "Quinto Andar" gigante no braço. Os integrantes mais ativos do Quinto eram Marechal, De Leve, Shawlin (Cachorro Magro) e DJ Castro.
Um feat com o Shaw ano passado no som "A Velha Oeste" já foi o primeiro sonho realizado deles, mas foi agora com o Marecha que deu o que falar.

Quinto Andar é um dos grupos primordiais do Rap, que fez história à partir de 99, ano esse que o Marechal diz na letra iniciar sua carreira, marcando show sem nem ter som lançado. Com um flow metralhado ele conta como era antes mesmo de se tornar MC, quando ainda era DJ, porteiro, promoter e até faxineiro se precisasse, da primeira festa de Rap do Rio.
Vale demais lembrar que a "Zoeira" era realizada por uma mulher, a Elza Cohen, uma das principais responsáveis pela volta das noites da Lapa, na época em que o Circo Voador foi fechado. A Elza é figura importantíssima na cena do hip hop, assim como várias mulheres. Pode parecer papo de feminista, mas não é, se o Marechal pecou em algo nesse som, foi em não citar nenhuma delas, só homens. O que já é de praxe no nosso meio é citarem as mulheres apenas como "vadias", falarei disso mais abaixo.
Quem tava lá? Não tinha nenhuma mina não? Quem é de verdade sabe que sem elas essa história toda não existiria, pois por trás das maiores festas e dos maiores artistas da nossa cultura têm mãos femininas, e muitas!
Quem tava lá? Eu ainda não tava, mas um pouco depois em 2005 eu tava lá no início da tradicional Batalha do Real, pode perguntar pro Aori e pro Cesinha.
Hutúz, Liga dos Mc's, Batalha do Conhecimento, Reciclando Pensamentos, Spraysom, Café Crime, Arará, Santa Marta, Luv, Clandestino e por aí vai... eu tava lá também!

Nessa música o Marechal também conta a sua treta histórica com o Cabal em 2006, que além de diss rendeu porrada e tirou a "senhorita" do mapa. Depois mostra um Marechal arrependido, mais maduro, focado e espiritualizado, que tive o prazer de conhecer melhor em uma visita ao seu "castelo" em Niterói. Com confecção, estúdio e escritório, ele é o dono dos seus próprios negócios e sabe levar isso tudo à frente na maior humildade, sem ostentar. A sua fama de pastor nos palcos vai além, ele realmente é professor e me deu uma aula sobre o mercado nesse dia. Sem falar que as experiências que tive com ele na Xarpi, me mostraram ser o mc mais sensato e justo da cena. Sem bajular, é real.

Há quem diz que foi uma jogada de mestre, uma espécie de cavalo de tróia, a participação dele nesse som, pois o Costa Gold contraria toda uma ideologia pregada pelo Marechal. Seria ele se infiltrando no rap da nova geração para passar sua mensagem?
Que ele não "precisa" disso nós sabemos, mas criança é a alma do negócio. Não adianta ficar no passado distante e atingir somente o público fiel e maduro. A criançada também está precisando ouvir mais papo de conteúdo e abrir a mente delas é uma grande missão. Marechal não é o primeiro nem o último a se unir aos novatos, o D2 já está nessa pegada há um tempo por exemplo. Estamos na era da velocidade.
"Quem tava lá" é um marco pros dois lados. Bom pros novos ouvirem os velhos e bom pros velhos ouvirem os novos. Sim, os velhos também precisam ouvir os novos, sempre!

O clipe muito bem dirigido tem uma cena clássica de estrada, meninos mijando, mas ninguém contava com eles enfileirados um do lado do outro.
A fotografia é foda e as cenas repletas de simbologias, tem aquele velho Marechal pé no chão, mais precisamente descalço, andando na contramão, carregando um livro, caderno e caneta.
O livro simboliza muita coisa, já que ele é responsável pelo projeto Livrar, onde livros são distribuídos gratuitamente nos shows.
O flow e a voz que interage com ele lembra muito o Quinto Andar.
"Um só caminho"? À essa altura ele já deve ter aceitado que são vários, mas a estrada continua sendo uma só, a mesma do Costa Gold, e é nessa que eles se encontram.

Esse som pode ser uma grande afronta para os fãs do Marechal, que discordam da filosofia de vida dourada, mas é um presente para os mais novos que só conhecem o que tem de atual e nunca sequer pesquisaram o passado e fundamento do Rap.
Me deparei com meu irmão que está prestes a completar 18 anos me perguntando se eu achava bom aquele cara lá que cantou por último na música nova do Costa Gold, ele nem sabia o nome e foi aí que me deu vontade de escrever sobre. Com 10 anos a mais me senti na obrigação de falar, mas procurando entender os dois lados, pois afinal, um dia eu já tive a idade dele.
Esse som não é pra mostrar quem é mais antigo, eu não suporto síndrome de old school underground. Esse som é pra mostrar quem tava lá no início de cada um e acima de tudo pregar respeito.

O beat sacanagem é do Pedro Lotto e começa com o clássico "ô-ow" do extinto icq, pura nostalgia!
Luccas Carlos chega pedindo para dar um grau na voz, será que precisava? Ele é o dono de uma das vozes mais potentes da cena atual. Sua vivência no Rap é recente, 2010 mas já está fazendo um estrago com sua pegada R&B. Há pouco ele vem mostrando que o seu timbre faz qualquer música virar hit, mas que o talento vai além dos refrões.
Nada surpresa, preciso mais uma vez falar que o discurso machista continua. O Luccas também se rendeu a ele,  afinal "puta" já é marca registrada no som dessa galera que ele está andando.
O papo é aquele clichê, das minas querendo dar pros caras do rap, aquelas que antes nem olhavam para eles mas que agora com a fama estão ali em cima.
O tema é o mesmo do seu single de estreia "Onde você tava?". Falando nesse som, o clipe é muito style e merece ser visto: https://www.youtube.com/watch?v=t4pMQff6P3s .
Scarface é foda, mas eu não sei qual é a ligação com o Rap, que a adoração é fora do normal, pois já perdi a conta de quantos mc's citam esse filme nas rimas.
Mas mesmo assim a parte do Luccas é bem gostosa de ouvir, viciante.

Inimigos, pela-sacos, bucetas e doenças sexualmente transmissíveis das "vadias" que jogam na cara deles (como se eles fossem forçados a comer) é o assunto principal do Nog, o que tem deixado muitas feministas indignadas. As minas querem dar, eles querem comer, levam elas pro hotel, todos gostam de sexo, mas depois eles se acham no direito de chama-las de piranhas. Alguém nos ajude Lázaro, a entender! Uma dose de hipocrisia e infantilidade a gente vê por aqui.
Que o Nog tem talento de sobra é indiscutível, a semelhança (maior influência) com o Eminem é citada por muitos. Mas estamos em um momento libertador de luta pela igualdade, que os caras do  rap fingem não ver. A idade explica muita coisa, onde meninos ainda precisam virar homens...

Predella, que vem forçando muito a voz ultimamente, mas sempre com um flow insano, falou da sua jornada que começou em 2008.
"Enquanto minha entrevista tem mais views do que todos os seus discos de rap" é uma indireta pros mc's que ele afirma ter começado a ultrapassar já em 2012. Pois é, em 2 dias já estão passando de 1 milhão de views nesse aqui.
"Nem começou o ano ainda e já lançamos 20 tracks" conflita bastante com aquele verso conhecido do Marechal "Um som por semana? Não sou esse tipo de Mc. Eu faço um som por ano e tu não fica uma semana sem ouvir." Mas Marechal respeita seus estilos diferentes e lembra de quando o Pedrella bem pequeno já o acompanhava.

Costa Gold vem se aproximando do Rap carioca cada vez mais, faz apenas 10 dias que lançaram junto ao Cacife Clandestino o EP "Cacife Gold" anunciando uma turnê.
Lembro de ouvir Costa Gold pela primeira vez em 2013 através de uma paulista louca que eu conheci. Ela veio me mostrar um clipe no youtube e confesso que na mesma hora pensei "saco, já vem alguém com aqueles raps horríveis de algum amiguinho", não lembro o nome da música mas lembro que achei eles bons e fiquei surpresa que nunca tinha ouvido falar. Alguns anos se passaram e o CG foi surgindo na cena e ultrapassando uma galera. No final de 2014 quando eles lançaram o cd Pósfacio na Xarpi, ainda eram pouco conhecidos, mas logo depois bombaram e hoje estão no top 5 da cena, sem o integrante Adonai, mas junto com o peso do Damassaclan.





sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Clara Lima - Realmente



Então vamos falar das mulheres do Rap nacional? Fui pesquisar e descobri que existem mais minas zikas do que eu pensava. E que surpresa boa foi me deparar com esse som...
A Clara Lima tem um flow de impressionar, que "realmente" põe vários no bolso.
Menina nova de Belo Horizonte, que começou nas batalhas de rimas como muitos mc's e já se tornou uma grande promessa pra cena.
O clipe foi gravado no Rio de Janeiro e o conteúdo é de visão de cria de favela.

A conexão da Clara com o RJ já vem rolando há um tempo...
Lembrei de um cypher que ela participa.
Ao lado dos garotos do selo carioca Pirâmide Perdida e do grupo mineiro DV, ela se destaca não só por ser a única mina no bagulho, mas pela sua levada funkeada.
https://www.youtube.com/watch?v=qdnyk2b2sk8
Se eu precisasse apostar em algumas minas, a Clara com certeza estaria no meu top5.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Mariana Mello feat. Guerrilheiros & Cortesia da Casa - Universo em Crise



Para os machistas de plantão - não, não é apenas um rostinho bonito.
No primeiro dia de agosto ela estreou bonito no rap, surpreendendo a todos, mostrando que tem talento e levada.
Para as minas - sim, estamos entrando cada vez mais na cena. Cada trampo feminino que aparece é motivo de orgulho, pois em um passado recente, o rap era predominantemente masculino. Não só os palcos, as plateias também eram tomadas por homens. Como ouvíamos falar de poucos nomes, é gratificante ver mais mulheres criando coragem e se jogando. Vale lembrar que as portas já estão mais que abertas para aquelas que não se intimidam. Prometo em breve postar mais minas por aqui.

A Mariana eu conheci um dia na praia da Joatinga (RJ), onde ela participava como modelo em um clipe do Correria feat Ber e Luccas Carlos. Até então, eu também não sabia do potencial do Luccas (histórias pra outro post).
Fui assistir a gravação à convite do amigo do Cartel e apesar de não ser muito conhecido esse som, super recomendo "Smooth": https://www.youtube.com/watch?v=IesjWcMNbxo .

Além de já fazer sucesso antes no instagram pela sua beleza fora do normal,
a MM agora está cercada de talentos, pois é mina do Spinardi. É fato que esse casal do rap ainda vai dar muito o que falar. E a coisa mais linda do clipe de hoje é ver o barrigão dela carregando a filha dos dois, o que mostra ser uma mina de atitude. Ela conseguiu passar uma imagem forte, de onde as pessoas geralmente esperavam fragilidade.

"Universo em Crise" é um som com boas ideias de vida. A letra cheia de reflexões tem participações de 3 integrantes do Damassaclan.
Smoke e Geleia do grupo paulista(no) Guerrilheiros, são dois caras responsas que eu conheci em um show do Haikaiss aqui no Rio e salvaram meu último rolé em São Paulo.
Lembro demais de um som deles produzido pelo Cia que tocava muito nas festas antigamente, "Pega mas não se apega".

Tangi, do grupo carioca Cortesia da Casa, foi adotado pelo Haikaiss e vem se destacando de uns tempos pra cá. Lembro dele mostrando um som pra mim e pro Ret na casa do amigo Pablo Martins (guardem esse nome) e pedindo a nossa opinião... Vou dar aqui, a voz desse menino é boa demais, não é a toa que ele é o dono desse refrão e também já faz parte do DMC.






segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Froid, Rod, Dalsin e SpVic - Veredicto



Sumida por aqui, hoje volto com uma pedrada pra vocês me perdoarem.
Junta 4 malucos líricos, um beat, uma câmera e espera a bomba...
É o que a galera do Rap Box fez para estrear a comemoração de 100 episódios no ar.
Esse é o tipo de feat que fica difícil escolher qual é o melhor, se é que precisamos escolher.
Para os críticos do youtube que vivem reclamando de "rap modinha", esse aqui é um grande exemplo de "rap verdadeiro". Conseguiram unir mc's excelentes que tem algo em comum: conteúdo.
Não por acaso, "Veredicto" começa com o último mc que eu citei no blog e larguei todos os elogios possíveis. O Froid inicia esse som incorporando a sua mãe e mulher. Ele manda a letra como se fosse elas expulsando ele de casa e terminando o relacionamento respectivamente, dando mesmo o veredicto.
Na sequência vem o Rod, do grupo baiano/carioca que eu tenho admirado muito ultimamente, o 3030. Ele chega inspirado, largou tanta rima boa em uma estrofe, que fez a diferença. São algumas punchlines [socos nas linhas] que se destacam, provocando desde os defensores do Bolsonaro até a igreja, mas a minha preferida foi "tô pela letra, se fosse só pelas drogas, eu escutava trance". Mesmo fã de música eletrônica, hei de concordar que o Rap fascina pela capacidade de passar mensagens como nenhum gênero faz. Terminada a sua parte com "paz", vem o próximo com um discurso cheio de sangue.
É, tava bom demais, até chegar o Dalsin com aquele elemento que não pode faltar no Rap, o machismo. Desiludido do amor, ele fala das "vacas" que ele come e da realidade de muitos rappers: drogas e tretas.
"Filha, cê aceita ser a mãe dos meus bambinos?" lembra aquela famosa track do Costa Gold que o Don L participou e marcou com "Cê tá afim de ser mãe do meu pivete?"...
Há quem vá dizer também que houve uma diss pro grupo Pollo nesse som, no verso "mc's vagalume apaga mais rápido que brilha". Esse mc do Audioclan, que chegou do interior de SP forte na cena, agora faz parte do coletivo Damassaclan, sempre disparando suas rimas de forma agressiva.
Para finalizar, chega mais um mc que veste a camisa do Damassa.
O Spvic entrou sério, com aquele ar de veterano de quem precisa honrar o Haikaiss.
Seu vocabulário e ideias continuam cabulosos e até confusos por conta do flow mais acelerado no final.
"Cada um com a sua versão", somado à produção do Leo Casa1, fez esse Cypher ser de qualidade!

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Froid - Pseudosocial



Cansada de ouvir mais do mesmo,
tive a emoção de conhecer um trampo diferenciado.
O Rap é cheio de talentos, mas a falta de cultura da maioria assusta.
E por mais que a vivência das ruas seja o que há de mais importante,
saber escrever é fundamental meu povo!
Tem aqueles que são umas metralhadoras nas rimas, mas volta e meia assassinam a
língua portuguesa. E saber escrever não significa apenas fazer o uso correto da gramática,
mas principalmente saber sobre o que escrever.
É fácil diferenciar os mc's que estudam dos que não pegam um livro sequer para ler.
E o caso de hoje é do tipo mais raro e esperançoso pro hip hop,
pois ele conseguiu não desperdiçar nenhum verso nesse som.
(Vale a pena ler a letra na descrição do vídeo no youtube).
Não é a toa que ele termina se comparando ao Brown e chamando os outros mc's de Benny.
Tá aí um garoto de apenas 22 anos, dando uma verdadeira aula de conhecimento do início ao fim.
Nesse som, o Froid levou à tona assuntos atuais, que por mais incrível que pareça, a sociedade ainda precisa discutir.
Do grupo "Um Barril de Rap" do Destrito Federal, a voz dele se destaca, e tirando o papinho na intro, a música só fica ruim quando acaba, pois com apenas 2 minutos ela deixou a impressão de faltar um pedaço.
Quanto ao clipe, é bem simples e se passa inteirinho dentro de um super mercado.
Uma prova de que a mensagem importa mais que qualquer coisa, esse clipe já passou de 600mil visualizações.
A produção dele não deve ter custado mais de 20 reais (coca, red bull e cheetos) e consegue ser melhor que metade dos clipes de rap que tem por aí.
A inspiração com certeza veio de algum ou alguns clipes de rappers americanos que não me recordo os nomes.
Ironicamente com um copo do Mc Donalds na mão, o Froid dá um rolé soltando o verbo e consumindo mais produtos do nosso sistema capitalista.
Papo pseudo-social...

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Mixtate Pirâmide Perdida Vol. 7



Piei dando uma pausa na sequência de clipes por uma boa causa:
Os caras do momento lançaram uma mix.
Dia 7/7 o famoso bloco7 (Pirâmide Perdida) completou um ano de existência e deu esse presente pra gente. Ainda rolou festa de comemoração na HomeGrown, a loja/galeria de arte mais style da cidade.
Diretamente das ruas KGL (KTT, Glória e Lapa), o selo composto pelos mc's do Nectar (BK, Bril e CHS), Akira, Sain (Start), Luccas Carlos e pelos produtores JXNVS e El Lif, tá causando um certo estrago.

Esse é o bonde que anda lançando tendências e tem o Rap mais sujo e original do Rio de Janeiro.
Sabe aquelas gírias avançadas que todo mundo fala ultimamente? Quase todas foram criadas por eles. Ponto pra identidade visual deles também. Aliás, além do mic, o CHS brinca nas artes.

Nessa mixtape rola uma variação total de estilos, vai do trap ao boombap, de vivências das ruas à términos de relacionamentos.
Para todo mundo que assim como eu esperava o Luccas Carlos no refrão, tá valendo separar umas horas do dia para ouvir o álbum inteiro e curtir o estilo de cada mc.

Dispiei.





terça-feira, 5 de julho de 2016

Karol Conka - É o poder



Se tem uma mina poderosa no rap nacional, é ela.
Aquela Karol que chegou de Curitiba por volta de 2010 como quem não queria nada, vem conquistando o mundo.
Quem não lembra da Karol de antigamente, vale a pena dar aquela procurada básica no youtube e ouvir "Melhor que se faz". No mundo do Rap, o tempo só para pra quem para no tempo. A velocidade assusta e muitos ficam pra trás, o que não é o caso dela. A transformação dessa mc é uma das mais surpreendentes que eu já vi, pois de repente ela virou não só um ícone da música, mas da moda também.
Karol desde o início teve a sorte de encontrar grandes parceiros, que impulsionaram a sua carreira (como o produtor musical Nave) e abriram trilhas para o caminho certo.
Foi em 2013 que ela chegou pesado com o álbum Batuk Freak, mostrando que não estava na cena para brincadeira. Com várias indicações no Prêmio Multishow e VMB, parcerias musicais fora do Rap e turnês na Europa, cada clipe lançado por ela é um tombamento.
Agora ela faz parte do mesmo time do Tropkillaz, Filipe Ret e Cachorro Magro, no selo Buuum, do conceituado dj e produtor Zegon em parceria com a Skol Beats.

No último dia de junho, saiu o clipe do single "É o poder", que começa com uma boa batucada de escola de samba.
Como eu já esperava, a Karol não economizou no figurino, com nítidas influências de divas internacionais. Ela sabe chamar atenção no visual e dessa vez teve ajuda de bons estilistas.
Juntando a sua personalidade única e todos esses looks,
já pode ser considerada a rainha dos gays.

Esse som é de empoderamento e passa um recado bem direto pros "faladores".
A letra agressiva é sobre essas figuras tão conhecidas do Rap nacional: os recalcados, famosos haters. Cheia de indiretas e cheirando à tretas, a música é basicamente sobre "façam mais e falem menos", ou melhor "o mundo é de quem faz".



sábado, 2 de julho de 2016

Haikaiss - A Praga




É madrugada de sexta e tem show deles rolando aqui no Rio, mas por ironia da vida estou na minha cama assistindo o clipe que lançaram ontem.
Haikaiss é o nome que não me decepciona nunca, porque é um dos poucos grupos que quando anunciam algum lançamento, tenho a certeza de que vem coisa boa. O nome desse som já define total o que eles se tornaram, a praga do rap nacional. Esses garotos mostraram para que vieram, dando uma bagunçada braba no jogo. Dessa geração atual, sem dúvidas o Haikaiss é o grupo que eu acho mais completo, em todos os sentidos. Eles criaram uma identidade nova pro rap, mandando bem desde as rimas, até as artes visuais. O grupo sempre me chamou atenção por isso, de se destacar não só pelo flow de metralhadora do Spinardi, ou pela voz linda do Qualy, ou pelo intelecto avançando do Spvic, ou pelas habilidades nos scratches do Sleep, mas principalmente pela originalidade somada com qualidade em tudo. A origem do nome já explica muito, vem da cultura oriental Haikai: a arte de dizer o máximo com o mínimo. É essa coisa que eles tem de transformar pequenas coisas em grandes feitos. Embora muita gente ache o grupo novo, já são 10 anos de estrada e ano retrasado eu tive a honra de conhecer o QG deles e ver de perto o quanto eles são focados. A Esseponto Records é uma casa foda na selva de pedra, pois é lá que produzem não só o Haikaiss, mas outros grupos e mc's do DaMassaClan.

"A Praga" é um clipe simples que mostra essa grande família DMC que eles construíram com outros nomes de peso, e a conexão firmada com alguns mc's do RJ. 
Quebrando um pouco desse mito eterno de rixa entre paulistas e cariocas... 
Reuniram um bonde tão grande no clipe que fica até difícil identificar todo mundo. Mas de cara aparece o Shock todo pá ao lado do Tangi, e o Bril do Nectar (figura presente em todos os clipes do momento, até de funk). Os amigos do Oriente, Chino, Geninho e Bruno (que no clipe é esmagado em uma simulação de briga, pelo Bril) também estão na fita. Só faltou o Nissin. 
Markone é O tatuador do Rap, pois já tatuou uma porrada de mc's conhecidos e aparece nesse clipe eternizando a logo do damassa no braço do Spvic. 

O som termina com o Qualy tirando onda enchendo o carro de mulheres (assim como ele diz encher os shows) e provocando os mc's: "Boate com o Haikaiss milianos é 1.000 manos de fé, 2.000 minas de classe. E tu só vai pegar alguém quando teu show parar de ser a proporção de 20 homens para 7 rapazes".  
O mais engraçado é que até chegar nessa parte do clipe, eu tava bem agoniada pelo fato de só ter cueca, mil homens na parada e apenas uma mina.... E lógico, mais uma vez rola aquele machismo básico. Apesar do Qualy ter sido cavalheiro abrindo a porta do carro, as minas só aparecem como objeto, só surgem no final, na hora de "arrastar" elas pra casa e mostrar pros amigos quem pega mais.
E por que essa necessidade de ter no mínimo 2 mulheres pra cada homem?
Ah, e logo eu que disse nunca me decepcionar, tive uma grande decepção dessa vez... a falsa ameaça do Spi de tacar fogo no carro da polícia. Seria lindo ver tudo explodindo, deixou a gente na maior expectativa. rs

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Ari - Lembra



Quem lembra do Ari antes da Cone? Aliás, eu lembro quando ele era da "Banda C.O.N.E.".
Poucos sabem, mas antes do sucesso da Cone, existia uma banda voltada para o Rock, que fazia show paralelamente ao grupo Cone Crew Diretoria. Eu cheguei a ir em algumas festas lá no início de tudo, em que os mc's abriam os shows da banda. O Rany, Cert e Maomé apesar de já se apelidarem antes de C.O.N.E. entre os amigos, ainda não eram as atrações principais da noite naquela época, mas o Ari era. Ele era líder da "Síndrome" e logo resolveu rebatizá-la de Banda Cone. Não demorou muito para o Rap tomar de assalto a cena do Rock. Não sei bem o que aconteceu com a banda, mas com o tempo ela não vingou e surgiu uma legião de fãs do grupo.
Só bem mais tarde, lá pra 2009, quando o cd Ataque Lírico já era febre na net, que o Ari foi entrar no grupo, assim como o Batoré. O Ari chegou para somar melodicamente, ele que é o cara dos refrões da Cone. O sucesso dessa família eu nem preciso falar, pois todos sabem a importância e o patamar que as rimas deles chegaram junto com o trabalho do fundador e gênio dos beats Papatinho.
Após 3 cds lançados, muito sucesso e shows incontáveis, alguns integrantes do grupo vem apresentando projetos solos paralelos.

Hoje o Ari lançou o clipe "Lembra". E mais uma vez eu acabei lembrando de outra música sem querer. Foi inevitável lembrar do som "Só pra você lembrar" do Filipe Ret. Apesar dos estilos serem bem diferentes, a parte que o Ari canta "lembra quando a gente se olhava e se amava...lembra quando a gente se beijava na escada" se parece um pouco com " fiz essa canção só pra você lembrar, de quando a gente não queria nada, transava na escada..." ou "se amava na escada..." da versão light. Diferente da música do Ret, a do Ari é bem fofinha, de menino bonzinho e apaixonado. E preciso comentar que esse é o segundo clipe que ele acerta em cheio na modelo/atriz.




Beni - KillM




Beni é o cara atuante na cena, que sabe fazer com as próprias mãos... além de mc e beatmaker, ele anda dirigindo bons clipes.
Lembro da época que a Batalha do Real acontecia todos os sábados na Lapa, ele tinha um visual que chamava muita atenção e um nome bizarro, mc Saco de Cola. Quando a moda do hip hop ainda era bem fraca no Rio, ele já se destacava vestindo camisa que ultrapassava os joelhos. Não recordo dele batalhando, mas sim de batalhas históricas que aconteciam em um buraco da Joaquim Silva, com entrada de apenas 5 reais. Era em uma pequena casa, escondida dentro do último arco da lapa, que a velha guarda do Rap toda se reunia e o mc que ia batalhar pagava 1 real. Isso foi um pouco depois da pioneira Zoeira, eu devia ser a mais nova do recinto e uma das pouquíssimas mulheres, claro. Estava emocionada com tudo, cheirando a leite no mundo do Rap, saindo da febre dos bailes funks. Naquela época 100 pessoas no local eram muito, era só pra quem gostava muito. Ali ninguém podia imaginar a proporção que o Rap ia tomar.

O recém lançado "Negros" é um álbum que tem sido bem comentado entre os mc's cariocas,
mas pouco reconhecido pelo grande público. Vários mc's elegeram esse disco como o melhor do ano, ou um dos melhores. Acredito que não tenha tomado grandes proporções pelo simples fato de não se enquadrar tanto no jogo. É um estilo mais pesado, com rimas secas e beats ricos em samples, cheios de referências de filmes. Além de ter uma lírica mais adulta, que não tem apelo comercial, apesar de possuir uma faixa com Mr Catra. É um disco que representa bem a luta do povo negro brasileiro. Resumindo, aqui você não vai encontrar rap de mulherzinha.

Hoje eu parei pra ver o clipe "KillM" que fala basicamente sobre o caos de viver nesse mundo capitalista. O vídeo traz temas super atuais da desordem que o Rio de Janeiro vem enfrentando. Em época de Olimpíadas, tudo se encaixa perfeitamente. A letra é inteligente e a semelhança com o flow do BK é fortíssima nesse som. O Tupac como referência também me chamou atenção, pois as cenas do Beni de perfil lembram muito ele, não só por causa da sua marca registrada que era a bandana na cabeça, mas pela imagem num todo.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Start Rap - Pisa devagar



Vamos lá, vou tentar pisar devagar no som de hoje, até porque eu gosto muito desses meninos. 
O Start formado por Shock, Sain, Faruck e dj Donnie, lançaram recentemente este clipe com participação do grande Rael no refrão, que é O cara da voz, e com produção do Laudz, que é um dos caras mais fodas da cena.
Antes de dar o play no som, já veio na minha cabeça aquela música do Kamau, com participação do próprio Rael no refrão: "Pretinha desse jeito cê me deixa sem chão, me dá um minuto só da sua atenção, pisa devagar aqui no meu coração...". E na sequência sem fazer muito esforço, me veio na cabeça também outra música que eu gosto e que também se intitula "Pretinha" e é do próprio Start. Depois lembrei da "Pretin" da Flora e por aí vai.... Que eles têm influências desses caras já percebemos, e é pra ter mesmo, pois Rael e Kamau são lendas vivas do Rap nacional.
Mas se eu for parar pra ficar falando de letra que cada mc "pegou" de alguém eu vou ficar até o ano que vem nessa.  
O Rap tem bastante disso, de estar sempre renovando as músicas, produzindo remixes e é claro que isso deve acontecer em qualquer segmento musical, e com consentimento entre eles muitas vezes, mas eu ainda prefiro as músicas mais originais.

Voltando para o clipe, o som é sobre infidelidade e essa vida insana dos mc's com mulheres, bebidas e hotéis. Começa com a voz inconfundível do Shock, que é um dos meninos da cena que eu tenho virado cada vez mais fã, não só pelas músicas, mas pelo estilo. O Qxó se tornou referência pros mulekes de hoje até no modo de se vestir. Conheci ele bem novo, quando ele ainda nem devia pensar em ser mc e eu ainda não pensava em produzir eventos, na época de CIC, a verdadeira escola do rap carioca, onde rolavam as batalhas de mc's toda semana na Fundição Progresso em meados de 2007, 2008. Projetos como a Batalha do Real e a Batalha do Conhecimento, dos mestres Aori e Marechal, formaram muitos mc's dessa geração.
Depois vem o Sain (com mais uma mina na cama), que dispensa apresentações e que eu gosto muito do flow e das letras. Conheci ele ainda criança na época de sucesso de Loadeando, pois ele estudava no mesmo colégio que eu no Catete. Acho a evolução dele como mc incrível, o seu talento é cada vez mais perceptível.
Também curto muito o estilo do Faruck, mas poderia falar aqui mais uma vez sobre o machismo super presente no rap, porém dessa vez vou deixar passar... Aliás, chamar qualquer mina que ele pega de "vaca" não pode passar batido. O Faruck na piscina com 2 minas, é aquele quadro do rap que a gente já cansou de ver. É bem real, só não gosto que faltem respeito com as minas. Não estou falando que nenhuma mina é santa, mas da mesma maneira, os garotos também não são. Quem eles insistem em chamar de "putas" são aquelas que tem os mesmos princípios morais que eles, são aquelas que são livres a ponto de dar pra quem querem. 
E para os homens que continuam difamando as minas, quando vierem com textão no facebook fingindo apoiar o feminismo: não passarão!





segunda-feira, 27 de junho de 2016

Igor Bidi - Leve



Pensa em um clipe lindo, tá aí!
O lançamento de hoje é "leve" e esse é o tipo de clipe que me faz ter orgulho de ser carioca.
O título dessa música define bastante o som e imagem que o Igor Bidi passa.
Locação melhor impossível, a Pedra Bonita mostra como o nosso Rio é lindo de cima e como é possível o Rap ter harmonia com a natureza. Sempre comemoro quando vejo um clipe bem produzido que consegue fugir um pouco da babilônia.
Esse é um love song com uma letra madura e tem uma voz suave feminina somando no refrão, mas faltou ser chiclete para virar hit. Quando eu falo de maturidade, é que esse som foge dos padrões de rap de amor que estamos acostumados a ouvir, pois a letra retrata o amor livre, o amor ideal. 
O Bidi é fruto do Comando Selva, que também serviu de escola não só para mim, mas pra toda essa geração do RAP RJ. Esse coletivo que tanto influenciou nomes importantíssimos da cena atual, tem uma ideologia um tanto underground, que vem na contramão do jogo e por isso não se popularizou tanto. Segue na Estrada Livre e Voa Anonimamente é o lema deles e agora é a vez do Bidi voar.
Tive o privilégio de ouvir em um fim de tarde na praia, com o pôr do sol do Coqueirão, todas as guias do álbum Mini Jornada Gigante que está prestes a ser lançado e posso dizer que me surpreendi positivamente. São aquelas músicas que tocam lá no fundo e fazem refletir. 
O Bidi tem influências que vão além do mundo do Rap e uma pegada espiritual.  
É um rap de alma, pouco comercial, que merece ser ouvido!




ModestiaParte - Goles Perdidos




Têm uns meninos novos e talentosos que estão se destacando na cena do RapRJ.

O ModestiaParte formado por 3 meninos de São Gonçalo que não devem ter mais de 18 anos, estão fazendo sucesso com seus raps melódicos feitos especialmente para meninas. 
Após 2 clipes que estouraram no youtube, agora é a vez do "Goles Perdidos", com produção de nada mais, nada menos que Papatinho e Kaique, e ainda conta com aparições do Rany Money e do mc de funk Duduzinho. Nem precisa falar que a produção tá pesada e que o refrão gruda na cabeça, mas se não fosse o beat e o fato deles brincarem no flow, a música não seria tão boa assim, pois a letra tem lá suas falhas.
Essa geração baby do Rap com discurso forçado de bandido me broxa um pouco. Já no início do som, o Maquiny, que tem cara de mais novinho e emo do grupo, solta um "celular grampeado". Ah, com certeza a polícia deve estar perseguindo eles... rs
Depois vem o Az, com um discurso machista, chamando de piranhas todas as minas que ele diz estarem apaixonadas por ele. 
O Orochi chega surpreendendo no flow, mas essa coisa do rap de fugir da realidade e querer ser gringo, também me cansa... "em Paris ou Londres tem gata pro bonde" pode soar legal na música, mas acho desnecessário, tanto quanto essa mania que os mc's tem de falar que bebem Dom Perignon. É falta de criatividade ou uma grande necessidade de copiar o Black Alien? Pois olha que conheço bastante mc e nunca vi nenhum bebendo uma garrafa dessas por aí. E a parte do mini Mos Def falando pra acender na blunt que ele quer ficar drunk, foi feita pra rimar, mas seria correto ele falar que quer ficar chapado e não bêbado, um dope nesse caso soaria melhor do que drunk.  

Eu dou 3 estrelas porque o som e clipe estão bem produzidos, mas é aquele clichê do rap, homens cheio de mulheres em volta, que eles chamam de piranhas com todas as letras e elas sem querer querendo, continuam dançando nas festas. 


Acho realmente besteira de quem reclama da nova geração do rap que não tem compromisso com mensagem social, pois sou a favor de todos os segmentos, seja rap de amor, trap ou rap de mensagem, mas não deixo de me importar com a letra do que cada um propôs a escrever.

O rap vem de geração em geração e se essa galera não se preocupar em mudar, quem vai?
E o momento que vivemos é de emponderamento feminino, então meninas, não podemos achar normal os caras continuarem com posturazinha machista.
Os homens podem pegar 10 mulheres em um clipe, que estão tirando onda, e as mulheres solteiras que ficam com quem elas querem, ainda precisam ser chamadas de piranhas mesmo? Eu ainda to esperando o dia em que as mulheres do rap chegam com sangue nos ói rebatendo tudo isso, mas o rap feminino ao meu ver ainda deixa muito a desejar.