Um fenômeno chamado Cone Crew Diretoria.
Quem viveu o boom do Rap Nacional (2010), sabe que a parada foi séria e que existe o antes da Cone e o depois da Cone. O tsunami que passou e colocou o Rap Carioca no mapa, vem há um tempo prometendo álbum novo e acaba de soltar esse som inédito junto com clipe.
Com o time desfalcado, todo mundo está querendo saber o porquê da ausência do Maomé e se essa música seria um aviso de rompimento, já que ele anda cheio de projetos paralelos.
A falta do seu ataque lírico fez uma certa falta. Maomé sempre teve um estilo mais sério e agressivo dos demais da crew. Sua fama começou nos duelos de mc's, onde eu me recordo das suas primeiras participações na Batalha do Real, no saudoso CIC (Fundição Progresso). No início ninguém botava muita fé, mas da noite pro dia ele se tornou um dos melhores na arte do improviso. Um troféu da importante Liga dos Mc's e diversos outros títulos fazem parte do seu currículo. Atualmente ele vem representando com várias iniciativas em prol do movimento, como o projeto Mic Master Brasil, que pela primeira vez na história irá premiar um MC com um carro zero. Mas mesmo assim torço para o Maomé permanecer no grupo, pois ele não é o mesmo sem a Cone e nem a Cone é a mesma sem ele.
"Eu to bebendo todo dia, fumando todo dia, fudendo umas vadias..."
Péra, aquela palavrinha mágica está por aqui novamente "vadias". (.....)
O som começa com esse verso, cantado por uma das minhas vozes preferidas do Rap.
Rany Money é o dono da primeira música que eu ouvi da Cone, "Skunk Funky", que por sinal era boa pra caralho pra época.
Quem ganha destaque pela voz também é o Ari, que é o mais versátil de todos e vem conquistando cada vez mais espaço na Cone Crew, sem falar que ele está com um trabalho solo promissor.
Com versos além de refrão, ele puxa uma dancinha com todos, dando uma graça a mais ao clipe.
Falando da Cone de antigamente, é notável a transformação que sofreu nesse não tão longo período de 10 anos. Não tão longo, pois parece que foi ontem que tudo começou. Os shows no Alto da Boa Vista e na Ilha Primeira marcaram uma época em que o Rap estava começando a ser frequentado por playboys e patys. Era emocionante e inovador ter que pegar um barco no meio da Barra da Tijuca para curtir um show em uma casa roots, com aquela velha falta de estrutura e som underground.
Tenho orgulho de ter realizado um show deles na segunda edição da Xarpi, no antigo Kalesa e em 2011 dois shows no Scala, ambos no Centro.
Quem conheceu o grupo lá atrás, sente falta das letras mais politizadas, mas a fama de grupo mais fanfarrão sempre existiu.
E "All In Gang" vem nessa pegada descontraída, reafirmando seu legado e dando continuidade à religião do foda-se.
O termo "all in" que vem dos jogos como o poker, significa investir com tudo contra seu adversário. É basicamente uma aposta de alto risco, de quem acredita que pode vencer, senão perde tudo.
A parte do Batoré tive uma certa dificuldade para entender de primeira, por causa do flow e da voz meio alterada.
As rimas são largadas daquele jeito único Batoré-de-ser e dedicados aos "recalcados". Aquele assunto principal do Rap Game, de quem tem mais nikes, likes e bitches...
"Pra você virar all in vai ter que viver 2 vezes" é um recado para os ditos "rap fakes".
E parece que o jogo inverteu, dessa vez pela primeira vez na vida eu consegui entender tudo que o Cert rimou. O mais wild style do grupo, brincou demais nesse som, não se repetindo tanto em suas métricas, mesmo utilizando de termos muitas vezes sem grandezas.
Sobre excessos e redundâncias da cena: o que fazem sempre questão de vender são "as drogas, a ostentação e as vadias". O Rap precisa pegar leve com esta misoginia irresponsável e descarada.
O clipe super classudo tem a direção assinada mais uma vez por Vandalo. Pelas ruas do centro do Rio, eles andam de traje "passeio completo" zoando tudo. Gostei, apesar de nunca entender o porquê dos rappers amarem se vestir socialmente nos clipes, diferente da vida real e eu já achar isso até clichê.
Com todos de preto e suas damas ao lado, em um cenário fino de festa de casamento, algumas partes me fizeram lembrar bastante o clipe "Invicto" do Filipe Ret.
Algumas figuras conhecidas reaparecem de outros clipes da Cone, como o Mr. Catra e o ator/cantor Negueba. O Alandim (filho do Catra) e o Mottila (grafiteiro/dono dos caps e das artes do Bonde da Madrugada) também participam.
Mas quem toma a cena de assalto mesmo são os figurantes, garçons, faxineiros e principalmente os músicos. Saxofones, guitarra e contra baixos valorizaram ainda mais o instrumental.
Aliás, beat foda já se tornou marca registrada da Cone, graças ao Papatinho.
Agora o negócio é esperar o Bonde da Madrugada II sair.
A cena final do clipe deu a esperança disso estar prestes a acontecer e se ela vai fazer jus ao "B.M. parte 1" só o tempo dirá.